“O tempo é tão curto!”, “estou correndo contra o tempo”, “não sobra tempo para nada”, “o tempo está voando!”
Quantas vezes você já se utilizou dessas afirmações para justificar o que não conseguiu realizar?
Em quantas ocasiões atribuiu à falta de tempo a impossibilidade de fazer tudo o que gostaria?
É corriqueiro escutar que o tempo parece estar cada vez mais restrito ou que o tempo está passando mais rápido. Evidentemente sabemos que a passagem dos minutos e das horas permanece a mesma e que o ritmo da vida moderna não a alterou. Então porque a impressão de que estamos sendo engolidos pelo tempo e que este nunca é suficiente?
Talvez a questão seja mais abrangente do que propor um planejamento mais eficiente da agenda diária e dos compromissos.
No contexto da clínica psicológica, buscamos facilitar a reflexão sobre a maneira como se escolhe fazer uso das 24 horas de que dispomos, ajudando os indivíduos a identificar os sentidos que direcionam suas decisões.
O filósofo existencialista Jean Paul Sartre afirmava que o homem é o resultado de suas escolhas. Sob essa ótica, a maneira como este decide utilizar seu tempo reflete um modo singular de ser e de agir. A vivência de que somos oprimidos pelo relógio e a impressão de que as horas do dia não são suficientes decorreria da angústia das escolhas que não puderam ser feitas.
Comumente nos depararmos na clínica com pessoas que relatam a sensação de tempo perdido, mal aproveitado, bem como a dificuldade de conciliar seus desejos, necessidades e obrigações.
Escutamos, com frequência, sobre como as redes sociais e os smartphones “roubam” horas preciosas. Com culpa, muitos confessam que não conseguem achar tempo para iniciar um curso, para tirar férias, para fazer exames médicos, cultivar amizades. Quando o assunto é família, sofrem porque o tempo para os filhos é quase inexistente e lamentam-se porque o trabalho e o trânsito consomem as horas que poderiam dedicar às suas relações.
Se você vive esse impasse, lhe convidamos a pensar sobre o que norteia suas decisões e sobre os valores e princípios que são importantes para você.
Responder a seguinte questão pode ajudá-lo a hierarquizar suas prioridades para um melhor uso do seu tempo:
Quais valores ou princípios orientam minhas escolhas? (estabilidade, segurança, bem estar familiar, ascensão profissional, desafios, retorno financeiro, realização, autossatisfação...)
Com isso, pode ficar mais fácil para cada um distinguir o que é essencial, o que é importante, o que é desejável e o que é dispensável ou um desperdício de tempo.
Dentro dessa perspectiva, o psicoterapeuta procura devolver aos indivíduos responsabilidade pelas decisões. O tempo deixa de ser uma entidade autônoma que os domina e, ao contrário, passar a ser um importante aliado para lhe ajudar a escolher o que fazer no tempo que se tem.
Exemplificando: se você conclui que um de seus princípios é ser um pai ou mãe presente e participativo, a escolha de não ir à academia após o expediente e não ter músculos torneados adquire sentido e coerência com seus próprios propósitos, impedindo que você seja tomado por culpa, impotência ou insatisfação com o próprio corpo.
Se conseguir uma promoção no curto-prazo é uma de suas prioridades e, para tanto, aceitar um projeto que exigirá trabalhar nos finais de semana é um requisito, será preciso assumir a responsabilidade por essa decisão e as consequências da redução do tempo de lazer.
Lidar com a limitação imposta pelas horas pode ser uma tarefa menos desgastante se estiver embasada em um projeto consciente de vida onde princípios, valores e interesses definem prioridades e guiam a tomada de decisões.
Gerenciar o tempo é sobretudo gerenciar escolhas, o que conduz, muitas vezes, a um reposicionamento diante da própria existência.